quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O Imperialismo por John Atkinson Hobson


O imperialismo é a tentativa dos grandes capitães da indústria de alargarem o seu canal de saída para a sua riqueza excedente, enquanto procuram mercados estrangeiros e possibilidades de investimento para a colocação das suas mercadorias ou aplicação do seu capital, que não podem ser vendidas nem ser investido na sua própria casa.
Está claro agora que é errada a afirmação de que a expansão imperialista é irremediável como possibilidade imprescindível de venda para a indústria em expansão. Não é o crescimento industrial que induz à abertura de novos mercados e de novas regiões para investimento, mas a deficiente distribuição do poder de aquisição, o que por sua vez impede a absorção de mercadorias e de capital dentro do país.
O imperialismo é o fruto desta falsa política econômica e o seu medicamento é a reforma social.
A raiz econômica do imperialismo encontra-se no ardente desejo de assegurar e desenvolver interesses industriais e financeiros, organizados com a ajuda das despesas públicas e do poder público para poder obter mercados privados para suas mercadorias em excesso, e para assegurar e desenvolver o seu capital excedente. Para este efeito a guerra, o militarismo, e uma política externa dirigida são os meios necessários. Esta política tem como conseqüência um forte crescimento das despesas públicas. Se aqueles círculos tivessem de pagar os custos daquela política do seu próprio bolso sob forma de impostos sobre os rendimentos e sobre a propriedade, nesse caso não lhes valeria a pena este gasto total, pelo menos no que se refere aos mercados de mercadorias; por isso vão buscar meios e caminhos para descarregar estas despesas no setor público.
Mas em países onde há o direito de voto e onde há um governo representativo um jogo com cartas abertas não promete nenhum êxito. É por isso que os impostos são indiretos e incidem sobre artigos imprescindíveis componentes do nível geral de consumo, e em conseqüência a ação do fisco não provoca nenhuma queda na sua procura. Essa é a razão porque os impostos não se orientam para os artigos cuja substituição seja possível.

domingo, 29 de novembro de 2009

1ª forma da crise no Modo Capitalista de Produção

A crise de abundância, na sociedade mercantil, cria uma situação paradoxal - “a abundância de produtos coexiste com a abundância de consumidores”. A sociedade mercantil criou mecanismos que por um lado impedem os produtores de venderem seus produtos e, por outro, obrigam consumidores a permanecerem com suas necessidades insatisfeitas. Esse conteúdo paradoxal que existe em germe na mercadoria, irá se desenvolver acompanhando a evolução da mercadoria e da própria sociedade mercantil.
Na passagem da sociedade de produtores de mercadorias para a produção capitalista, as limitações que impediam a superprodução generalizada, são superadas, as leis do MPC agem no desenvolvimento do conteúdo (paradoxal), bem como nas duas formas criadas anteriormente, na sociedade mercantil, que estimularam o desenvolvimento da crise de abundância.
A circulação M-D-M no MPC sofre mudanças de ordem qualitativa e conseqüentemente, a função do dinheiro como meio de circulação (1ª forma da crise) sofre grandes modificações, por ex.: o 1° ato M-D não é mais um ato de circulação de mercadorias, mas sim de capital mercadoria sob a forma mercadoria, portanto será um ato M’-D’. Assim, a função do dinheiro como meio de circulação, além de ser de meio de circulação de mercadorias, passa a ser de meio de circulação do capital. No ato seguinte D’-M o produtor capitalista, como personificador do KD realizará 3 atos distintos, dividindo-o em D (quantidade igual ao desembolso inicial) e d (que corresponde a m’ dividida em consumo pessoal e acumulação), na parte a que se refere a D o ato será representado em dois mercados distintos, de meios de produção (relação entre dois capitalistas), que pela aparência é um ato de circulação, mas na essência será um ato de circulação de capital, e o mercado de força de trabalho.
Obs.: Sob o ponto de vista dos capitalistas envolvidos nos atos M-D-M, terão sempre que se encontrar completando suas necessidades inerentes ao sistema, ou seja, estarão sempre adquirindo meios de consumo, meios de produção ou força de trabalho. Para o trabalhador o ato de circulação sempre será um puro ato de circulação de mercadorias.
Ao adquirir FT aliada aos Mp , o capital assumi a forma de KP que tem como única função a produção de novas mercadorias, levando-se a concluir que quanto mais mercadorias forem consumidas mais mercadorias serão lançadas no mercado. O consumo pessoal dos trabalhadores traz também como conseqüências a produção de mercadorias e, portanto, o retorno compulsório ao mercado.
Concluindo, temos que: no MPC o ato M-D-M realiza-se em mercados diferentes e independentes no mercado de bens de consumo, meios de produção e força de trabalho, as proporções das compras-vendas realizadas dependem exclusivamente da reprodução do capital. Se houver a ampliação da separação dos atos de compra-venda, nesses mercados, ultrapassando certos limites, contra ela prevalecerá a unidade através da crise. E a interrupção de um ato venda-compra produzirá um bloqueio em cadeia, na circulação e produção, comprometendo todo o sistema.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

O Dinheiro e a possibilidade das crises

O valor na sociedade mercantil manifesta-se num corpo incômodo, o do dinheiro. Cujo valor-de-uso é puramente ideal, não é capaz de satisfazer necessidades, é, portanto uma não-mercadoria para um produtor Pi qualquer, ou seja, um símbolo puro de valor. Assim sendo a equação dinheiro do valor, diferentemente das outras, deixa de representar a solução da contradição VxVU, pois a materialização de valor no corpo do dinheiro é transitória, uma vez que o VU desta mercadoria especial é ideal. Haverá a criação de uma nova forma de manifestação para a contradição interna VxVU que é a manifestação externa M x D. Esse salto qualitativo de M – M para M-D-M (dinheiro como meio de circulação) elevará o fenômeno da crise para o nível da possibilidades, teremos assim a 1ª forma de manifestação da crise.
Assumir a função de meio de circulação transforma o par compra-venda numa unidade de contrários, pois permite ao mesmo indivíduo ser vendedor e comprador em momentos diferentes, esta unidade tornar-se-á autônoma quando a oposição prevalecer contra a unidade, ou seja, a não solução da contradição venda x compra, cuja crise terá como função revelar a unidade desses elementos que passaram a ficar independentes uns dos outros. O dinheiro pode separar no tempo e no espaço os atos de compra e venda, ninguém pode vender, sem que alguém compre. Mas ninguém é obrigado a comprar imediatamente, apenas por ter vendido.
Outro fato observado, com o dinheiro na função de meio de circulação, é a ilusão provocada pelo seu movimento aparente, resultado do fetichismo que essa forma de cristalização do trabalho humano abstrato introduz na sociedade mercantil, onde a mercadoria aparece como resultado do movimento do dinheiro.
Ainda na sociedade mercantil se dará a 2ª forma de manifestação da crise - o dinheiro como função de meio de pagamento que figurará em duas fases distintas separadas no tempo, em dois papéis distintos (o real e o imaginário). A contradição M x D terá atingido um nível mais elevado aumentando a oposição quantitativamente (maior circulação de mercadorias com um montante menor de dinheiro) e qualitativamente ( circulam mercadorias sem que haja circulação de dinheiro e posteriormente dinheiro sem correspondência com a circulação de mercadorias). Vemos, portanto, na 2ª forma de manifestação da crise, que dinheiro e mercadoria afastam-se autonomizando-se e se essa autonomia prevalecer ultrapassando certos limites, a unidade prevalecerá por meio de uma crise.
Obs.: Essas duas formas de possibilidade de crise ainda se mostram como abstratas, pois é possível uma crise de abundância, mas não uma crise de superprodução geral, a sociedade em questão, a mercantil, ainda apresenta-se com as capacidades de expansão da produção limitadas, porém com essas duas formas teremos o desenvolvimento da crise do campo do possível até o necessário (no MPC).

domingo, 15 de novembro de 2009

A mercadoria e o germe da crise

A mercadoria é a forma elementar de toda a riqueza, formada pelo par de contrários dialéticos ValorxValor-de-uso e produto do trabalho humano, traz dentro de si um complexo de relações sociais e está em constante desenvolvimento, assim como as relações sociais que lhe deram origem. Portanto cristalizada sob a forma objeto, mas com sua essência VxVU em dinâmica evolução é o germe da crise do MPC.
A simples existência da mercadoria é suficiente para evidenciar a existência de VxVU, mas a oposição sendo interna a mercadoria só pode ser observada através das relações de troca, ou seja, evidenciando o valor de troca (forma) como manifestação do valor (conteúdo). Excluindo-se a possibilidade de autoconsumo, teremos a 1ª forma de manifestação da oposição VxVU, um produtor não pode consumir o produto de seu próprio trabalho, para ele a mercadoria possui um valor ideal e deverá encontrar no mercado um valor-de-troca onde possa se manifestar. Essa é a condição “sine qua non” para a existência de mercadoria, o produto do trabalho humano, produzido para ser mercadoria, é apenas mercadoria em potencial, pois necessita de reconhecimento social. Os produtores estão inconscientemente ligados pelos elos invisíveis que submetem as partes ao todo e submetidos também a possibilidade de surgirem produtos do trabalho humano para os quais não existem consumidores e não tendo a mercadoria o seu valor-de-uso reconhecido socialmente, ocasionando destruição de trabalho humano gasto inutilmente, haverá também a redução da capacidade de consumo social, pois os produtores que não conseguirem alienar suas mercadorias estarão impossibilitados de adquirir outras. Estará caracterizado, portanto, o germe da crise de abundância e seguir a evolução da contradição VxVU é acompanhar o fenômeno mercadoria e observar simultaneamente a gestação das crises.
O dinamismo da mercadoria é evidenciado no processo das relações de trocas e através do uso das equações do valor, referencial teórico cujos processos das trocas são mais facilmente visualizados, pois representam um estágio historicamente determinado do desenvolvimento das relações de troca. A equação de valor também pode ser considerada como uma unidade formada pelo par de contrários dialéticos FRVxFEV (aplicando-se assim à ela todas as propriedades inerentes a esta categoria da filosofia).
A equação simples do valor (FRV) aM1 = bM2 (FEV), representa uma sociedade onde as trocas são atos isolados sem quaisquer ligações a montante ou a jusante. A equação extensiva (FRV) aM1 = bM2, cM3 ... qMn (FEV) são reconhecidas, nas trocas, os VU’s das mercadorias, mas não há nenhuma mercadoria de aceitação global.
Na equação geral do valor (FRV) bM2, cM3 ... qMn = aM1 (FEV), sendo aM1 de aceitação geral, mas não ainda dinheiro, poderá ela ter dois tipos de utilização: ou como bem de consumo ou como meio de circulação, representando portanto uma situação em que existem relações de troca a montante e a jusante. Ela ainda poderá ser substituída por outra que se apresente mais adequada às necessidades do desenvolvimento das trocas.
O grande salto qualitativo é visto na equação dinheiro do valor (FRV) aM1, bM2 ... qMn = D (FEV), o ouro como equivalente geral exclui definitivamente dessa função todas as outras mercadorias. Todos os produtos serão obrigados a realizar as operações de venda e troca e sempre deixando como prisioneiro da circulação um produtor qualquer possuidor de dinheiro.
Na equação dinheiro do valor a oposição VxVU atinge seu ponto máximo, a oposição interna, em cada mercadoria assumi uma nova forma de manifestação: a forma de oposição externa entre M e D. O reconhecimento do VU como valor-de-uso social do trabalho privado como parcela do trabalho social só poderá efetuar-se através da mercadoria dinheiro. No entanto, a realização do valor de uma mercadoria não significa, para o seu produtor, a aquisição de um VU que o permita satisfazer sua necessidade. O VU do dinheiro é ideal.
A equação dinheiro do valor representa um ato incompleto M – D para completá-lo é necessário o ato seguinte D – M, ou seja, a expressão do valor de uma mercadoria qualquer no VU de D deixa de ser a solução da contradição VxVU.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Pré-sal, Concessão e Partilha...

Na concessão todo petróleo/gás natural produzido é da empresa concessionária, na partilha parte é da empresa e parte é da União. Em relação à parcela do governo e das empresas, na concessão o governo usufrui de bônus de assinatura, royalties, participação especial, pagamento por ocupação e retenção de área... já a empresa terá direito a receita bruta menos parcela do governo. No sistema de partilha o governo tem direto a todo o óleo menos a parcela da empresa + bônus de assinatura, a empresa por sua vez terá custo em óleo mais excedente em óleo e gás da empresa. Portanto no que se refere a propriedade das instalações, no regime de concessão, pertencerá a empresa e na partilha pertencerá a União, o que leva a um menor gerenciamento e controle por parte do governo na concessão, o contrário é verificado no sistema de partilha.
Independente do sistema, de partilha ou concessão, o que as multinacionais querem é qualidade dos blocos explorados e transparência no processo licitatório da nova estatal. Riscos de deparar com um poço vazio existem tanto no sistema de concessões quanto no de partilha.
Sobre o debate em relação a distribuição dos royalties do pré-sal permanece acalorado, pelas normas atuais, Rio, São Paulo e Espírito Santo levariam integralmente a parte que cabe aos Estados na distribuição dos royalties e participações especiais, assim como os municípios às quais pertencem as regiões de exploração. Para o governador da Bahia (Estado que não tem reserva comprovada) Jaques Wagner do PT defende que a distribuição futura leve em conta a população de cada unidade federal eo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das regiões.Em contraproposta o governador do Espírito Santo (Com boa expectativa de exploração) Paulo Hartung do PMDB, diz que é justo que todo o país tenha sua parte nos royalties da produção do pré-sal. No entanto ele afirmou que, em seu entendimento, o artigo 20 da Constituição garante o tratamento diferenciado às regiões produtoras. Enquanto cada um tenta puxar um pouco de vantagem para o seu lado, na Paraíba governos se omitem na disputa pelos seus interesses na questão do pré-sal, políticos só se inspiram em brigas políticas em busca de alavancar o poder para si próprio. Ante a essa omissão o Estado de Pernambuco sob a figura do governador Eduardo Campos sai na luta por uma divisão igualitária que não deixe o nordeste excluído ou marginalizado.
A produção do Pré-sal estará gerando R$18 milhões anuais em impostos, royalties e participações especiais em 2017, mas o que não se sabe é se a economia brasileira vai ter condições de sanear todo esse dinheiro.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Capital Bancário (financeiro)

O banqueiro entrega materialmente o dinheiro ao capitalista industrial, com os juros da mercadoria que ele esta vendendo, mas entrega também o valor. E como essa operação é possível? De entregar valor e valor-de-uso simultaneamente?
Isto só é possível se houver um ato jurídico que garanta a devolução do valor depois, ou seja, a operação bancária só é possível se houver um estado organizado.

A mercadoria capital, que se apresenta sob a forma de dinheiro, é recebida pelo capitalista industrial e nessa operação aliena-se a utilidade e o seu valor à pessoa que a comprou. Em uma atividade comercial normal vende-se a mercadoria, mas se retém o valor dela. O valor-de-uso que o capitalista compra não vai ser só o V.U do dinheiro, tem outro V.U escondido, que é o de produzir mais-valia.

Capital função = industriais
Capital propriedade = banqueiros

Aparentemente esta se negociando dinheiro, mas na verdade este dinheiro que esta sendo negociado é dinheiro na forma de capital, pois o objetivo é trocá-lo por D + D. Estando-se a negociar uma coisa sob a forma de dinheiro com o objetivo de crescer, essa coisa em questão não pode ser dinheiro, é algo que tem a forma de dinheiro, mas em seu conteúdo é capital.
Portanto a mercadoria capital é uma mercadoria especial, cujo valor-de-uso é crescer, é este V.U que se esta comprando e vendendo, ou seja, a “capacidade de crescer”. O grande problema é a facilidade de produzi-la indiscriminadamente.
O capital se apresenta sob a forma de dinheiro e cuja venda se apresenta sob a forma de empréstimo, os juros são o seu preço irracional (o preço irracional do dinheiro é o preço da mercadoria capital) e este é uma parcela da mais-valia, que é produzida pelo capital industrial ou comercial, e que é servida ao capitalista banqueiro pela compra da mercadoria capital.

“Empréstimo de dinheiro é empréstimo de capital sob a forma de dinheiro. É uma função que não é do dinheiro, mas sim do capital que se apresenta sob a forma deste.”

A parte que o capital financeiro se apropria da mais-valia se chama juros ou dividendos, há vários tipos de remuneração que dão margem ao rendimento.
Quando os juros não podem ser determinados pelo T.T.S.N. ele é chamado de preço irracional do capital. Porque não tem por base a lei do valor, a única coisa que acerta os juros é a lei da oferta e da procura. Na teoria neoclássica a única e exclusiva coisa que é determinada pela lei da oferta e da procura é o preço da mercadoria capital.
O capital financeiro assumiu ao longo do tempo não só a forma de empréstimo em dinheiro, mas também a de papéis. E qualquer que seja a forma assumida ela se remunera da mesma maneira, através de uma taxa que se insere sobre o montante (que é o investimento).

Capital Comercial

O capital comercial participa indiretamente da produção de mais-valia, pois abrevia o centro de circulação do capital industrial e, portanto o do capital social, aumentando a sua rotação, ou seja, a taxa de lucro. Ele liberta capital para a produção, amplia o mercado e a divisão do trabalho contribuindo para o aumento da produtividade. Mas isso se o investimento em capital comercial for menor do que o gasto de vendas dos capitais industriais somados, se verificado o contrário, não haveria vantagem e razão para a sua existência. Atualmente todas as técnicas de gestão estão voltadas para o aumento da velocidade de rotação do capital, pois assim consegue-se, sem mudar o pacote de investimentos ou tecnologias, aumentar a massa de mais-valia, ou seja, a taxa de lucro.
Inicialmente o capitalista comerciante para comprar a produção tem que ter capital próprio para comprar e vender, além daquele que é investido para se montar o escritório, é o denominado capital para transações; não é nem capital variável nem capital constante, pois não entra em nenhum processo produtivo, ele é dinheiro e vai manter-se o tempo todo nessa forma, não se materializando em nada, nem em salários nem em máquinas e equipamentos, é dinheiro que sai do banco e volta para o banco.

Com a distribuição da mais-valia através do lucro médio, os capitalistas comerciais vão ter direito a uma parte e os industriais à outra.

Somatório das mais-valias/Somatorio dos investimentos = Taxa de lucro médio (da sociedade)

O mecanismo utilizado pelo comércio é o das taxas de desconto que os comerciantes ganham para vender, o comerciante pode receber descontos sem que o industrial esteja perdendo dinheiro, pois ele vai entregar uma parte da mais-valia dele em troca do aumento da velocidade de rotação de seu capital. Então a existência do capital comercial aumenta a rotação do capital industrial, mas não altera o investimento, há apenas o aumento do seu faturamento (em algumas exceções pode diminuí-lo).
Se o volume de capitalistas comerciantes aumenta em demasia na sociedade, engolindo uma quantidade de mais-valia grande demais, sem correspondente resultado de aumentar a velocidade de rotação, o capitalista industrial simplesmente baixa a taxa de investimento e assim eliminam-se os comerciantes mais incompetentes. Cada vez mais na passagem M’- D’ precisa-se menos de revendedor, historicamente o capital comercial esta com os seus dias contados. Assim o volume de capital comercial que existe na sociedade é rigorosamente controlado pelo capital industrial, no momento em que esse começa a prejudicar a indústria os capitalistas industriais acabam com eles, esse é um fenômeno permanente no modo capitalista de produção.

Lucro e Taxa de lucro médio

O conceito de taxa de lucro nada tem haver com o conceito de Custo de Produção e sim com o investimento total e a massa de lucro. E o conceito de C.P tem haver com lucro, mas nada haver com taxa de lucro, pois para determinar a massa de lucro deve-se ter preço de mercado (venda) menos custo de produção.
Onde a composição do capital é média, os preços de produção são iguais aos valores, lucro é igual à mais-valia.
A formação do lucro médio pressupõe a concorrência entre os ramos e a livre circulação de capitais e força de trabalho. Sem a concorrência que permite que os capitais e capitalistas passem de um ramo p/outro, não se forma a T.L.M.
Obs.: qualquer tipo de monopólio vai prejudicar a taxa de lucro médio.
A T.L.M é também uma taxa ideal de várias formas de manifestação ex.: lucro efetivo.
Taxas de comercialização são taxas que se adiciona ao produto para se chegar ao preço de produção, na esperança de que com essa taxa, no final do ano, se obtenha o L.M. Essas taxas não são determinadas dentro da empresa, são impostas de fora para dentro por leis econômicas que os empresários desconhecem.
Toda vez que não se consegue o L.M erra-se o alvo e a contabilidade da empresa começa a fazer mil contas para se saber onde está o erro.

É o valor que se manifesta idealmente nos preços de produção de mercado

A realidade é dúplice em seu conteúdo, o material e o ideal, um está fora e o outro dentro do cérebro humano. O preço pelo qual o capitalista vai vender seu produto é ideal (está na cabeça dele) podendo não vendê-lo em função da teoria da concorrência, na sociedade capitalista os valores se expressam pelo P.P.I.
O capitalista vai ao mercado e compra máquinas pelo preço de mercado, o que representa o m’ de outra empresa anterior. Se essas máquinas e equipamentos são vendidos há um preço de mercado, entram nos custos desta empresa.
“sempre a parte de lucro de uma empresa entra como preço de custo de outra empresa. Ad infinitum.”
Há uma transformação qualitativa, um capitalista paga e aparecerá na sociedade um valor que não existia antes: o M’.
Partes de mais-valia são cristalizadas na sociedade em produtos, vão entrar na composição do preço dos agentes. O mercado é a materialização do preço de produção de mercado (preço ideal).
Se a oferta for igual à procura os preços de mercado serão iguais aos preços de produção de mercado, se houver desequilíbrio os preços de mercado vão girar em torno do preço de produção de mercado, influenciados ora pelas empresas que trabalham nas melhores condições e ora pelas empresas que trabalham nas piores condições. E é essa concorrência que vai fazer com que o capitalismo se apure, as empresas mais incompetentes serão eliminadas.

Mais-valia - Processo de produção - Kc e Kv

Relação entre a mais-valia e os processos de produção e circulação.

Com a integração da circulação e da produção a mais-valia é dissimulada, pois o excedente do valor da mercadoria sobre o preço de custo, embora se origine na esfera da produção, só se realiza no processo de circulação. Isso porque em meio à concorrência no mercado real, depende das condições deste a possibilidade de realizar-se e o grau em que se realiza em dinheiro esse excedente. A mais-valia realizada com a venda da mercadoria assume para o capitalista a aparência de excesso do preço de venda sobre o valor, ao invés de ser o excesso do valor sobre o preço de custo. Desse modo a mais-valia, ao invés de realizar-se em dinheiro com a venda da mercadoria que a contém origina-se da própria venda.

Relação do capital constante e variável com o valor do produto.

Em relação ao valor do produto, a variação da magnitude do valor, do capital constante aumenta ou diminui de acordo com a magnitude absoluta do valor do capital constante. Isso porque esse próprio capital desembolsado transfere o próprio valor ao produto.

Já em relação ao capital variável, uma variação da magnitude do seu valor, em nada muda o valor mercadoria, pois em nada altera a magnitude absoluta do valor novo criado pela F.T em ação. Influi apenas nas duas partes do valor novo (mais-valia e preço de custo).

domingo, 19 de julho de 2009

Indústria têxtil sofre queda nos lucros


A indústria têxtil chinesa anunciou um declínio nos lucros no período de janeiro a novembro de 2008, como resultado da contração da demanda no mercado internacional. Empresas têxteis chineses registraram lucro de 104.200 milhões de iuanes (cerca de US$ 15 milhões) nos primeiros 11 meses de 2008, representando uma queda de 1,77% durante o mesmo período de 2007, de acordo com fontes do Bureau Nacional Estatísticas (NBS).
"Esta é a primeira vez que a indústria têxtil do país registrou um declínio nos últimos dez anos", disse Wang Qianjin, editor-chefe do site.
No Brasil a crise internacional também afetou a indústria têxtil, mas especificamente o setor algodoeiro, que sofreu uma redução de 23% na área plantada este ano e vai perder cerca de 400 mil toneladas na produção em relação a 2008.
– Pelo menos metade dessa redução é em função da crise e a outra metade em função da queda da produção brasileira – disse a jornalistas o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Haroldo Cunha.

Frente a essas duas notícias relacionadas com a atual crise mundial e suas consequências sobre as industrias têxtil de algodão, está o fato de que esse tipo de indústria é a segunda que mais polui o nosso planeta, perde apenas para a indústria de celulose. O fato mais lastimável que ninguém sabe é que chega-se a se usar o "agente laranja", poderoso herbicida e desfolhante usado em grandes quantidades durante a Guerra do Vietnã, para se facilitar a coleta do algodão. Em contato com esse herbicida, injetado no ar, o algodão simplesmente cai no solo sem precisar colhe-lo manualmente da planta. Logo após vem uma máquina e através de sucção vai coletando todos que se encontram no solo.
Portanto não é preciso nem dizer o quanto que pessoas que moram perto de zonas de colheitas de algodão estão sujeitas a gravíssimo perigo de vida. A indústria têxtil, pela sua alta capacidade de devastação da natureza fará com que, no futuro, roupas feitas de algodão sejam bens de luxo, nao estando assim acessível à maioria da população.

O agente laranja contém um dos mais fortes venenos existentes, uma variação da dioxina chamada TCCD. Após desfolhar a floresta, a dioxina espalha sua toxina pela cadeia alimentar - o que tem gerado vários defeitos de nascença, nos vietnamitas.

Marxismo questões essênciais.

Porque a categoria custo de produção esconde o processo de valorização?
A categoria custo de produção não é uma categoria de valorização, são conceitos do capitalista que não permite explicar como o valor das coisas é criado, a única informação que o conceito de custo de produção oferece é o preço mínimo que o capitalista pode vender o produto a fim de readquirir as condições para voltar a produzir. Para o capitalista o que custa o seu produto são: o salário do trabalhador, as matérias-primas e as máquinas, que irão materializar-se no corpo do produto. Ele vai ao mercado vende seu produto e recebe mais por isso, atribuindo à esse efeito a remuneração do seu investimento, o lucro surge como algo misterioso que veio de fora da empresa. Portanto custo de produção é um aspecto ilusório de uma categoria de valor da valorização. Esta consiste no processo de criação do valor novo, como é que a riqueza cresce, quando o valor novo é gerado e qual é o mecanismo que faz com que a riqueza que se produz a cada dia seja maior do que a riqueza que se produziu anteriormente.

Porque o capital fixo e circulante esconde o processo de valorização?
C.F e C.C são categorias empresariais e não da economia política, os capitalistas observam dentro da fábrica a maneira como aparentemente os vários componentes do seu investimento se comportam na hora da produção, e esta classificação não permite saber qual é a parte do capital que gera valor novo. Derivados do capital despendido para produzir mercadorias e entrando na proporção de suas respectivas magnitudes (C.F entra parcialmente no P.C e C.C é consumido por inteiro). Cria-se uma diferença, sob o ponto de vista do cálculo do P.c, mistificando o processo de valorização, pois demonstra apenas a sua origem aparente, ou seja, o custo para os capitalistas dos elementos de produção despendidos, inclusive a F.T, que classificada como Capital circulante é, no tocante à formação do valor, identificado com o capital constante.

Porque a taxa de lucro esconde o processo de valorização?
A taxa de lucro exprime outra mensuração da mais-valia, tomando por base o valor da totalidade do capital, em vez de o valor de parte do capital, trocada pelo trabalho e da qual a mais-valia deriva diretamente em virtude dessa troca. Embora iguais a taxa de lucro difere quantitativamente da taxa de mais-valia, dissimulando a sua origem. A maneira como a mais-valia se transforma em lucro decorre da inversão do sujeito-objeto no processo de produção. Não podendo o capitalista explorar o trabalho sem adiantar o capital constante e nem valorizá-lo sem adiantar o capital variável, parece-lhe que ambos são iguais. Ele ilude-se ao pensar que a proporção real de seu ganho provém de todo o capital (taxa de lucro) e não da relação deste com o capital variável (taxa de mais-valia).

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Desigualdade intra-regional

Durante anos o Nordeste reclamou do desequilíbrio regional (das instâncias que existe deste com o Centro-Sul do país) e hoje vemos as distâncias se aprofundarem internamente. É a chamada desigualdade “intra-regional” – Processo de desenvolvimento das economias mais ricas, concentradas rigorosamente nas regiões metropolitanas.
A PB, por exemplo, não está somente cada vez mais distante das economias dos Estados do Sudeste e Sul do país, mas também do desempenho econômico dos Estados como BA, RN e CE. Na última década essa disparidade econômica se aprofundou e tornou-se mais visível, mas nenhum governante dos Estados afetados e empobrecidos levantou essa bandeira de luta.

O “favorecimento histórico” já dura quase 30 anos de três Estados (BA,PE e CE); quando soma-se o PIB desses três Estados juntos, vemos que ele representa 65% da economia Nordestina. Só o PIB da BA (R$90,9 milhões) é maior do que a economia de MA, PI, SE, PB, RN e AL juntos.
Os baianos, pernambucanos e cearenses vêm abocanhando uma média de 30% a 40% dos investimentos para a Região NE, ou seja, há fluxo de investimentos privilegiados para esses três Estados.

O Governo Federal tem de assumir uma postura e defender que os investimentos não se limitem a apenas determinados Estados. Caso contrário estará estimulando a construção de dois Nordestes: o dos Estados ricos e o dos Estados pobres.
Os reflexos dessa desigualdade intra-regional podem ser também explicados pelos investimentos do BNDES, que os concentrou nos três Estados mais fortes do NE.
É preciso desconcentrar o desenvolvimento, descentralizar a renda e permitir que haja um equilíbrio mínimo entre os investimentos.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Cordel: O mito da caverna

"As sombras que assistimos
Nos jornais, televisão,
São tão fortes que tirando,
Sem sentirmos, a razão,
Nos conduzem, sem farol,
A negar o nosso herói,
A aplaudir um vilão."



Medeiros Braga



Baixe em : http://www.4shared.com/file/115866050/6603473e/O_Mito_da_Caverna_em_Cordel.html




domingo, 28 de junho de 2009



Michael Jackson que me desculpe, mas em matéria de andar para trás, ninguém bate a dinastia Sarney.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Cordel Marxista

“Desde o dia em que inventaram
Por ganância, por maldade,
Pela força e violência
A tal da propriedade,
Suprimido o aconchego,
Nunca mais houve sossego
Na história da humanidade.”
Medeiros Braga




*Medeiros Braga – Economista, Romancista, poeta e técnico de campo junto a pequenas comunidades rurais.


Download do cordel em formato PDF em : http://www.4shared.com/file/109897529/67b331e8/Cordel_A_Origem_da_Riqueza.html

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Marxismo: questões essênciais

Será o lucro igual à mais-valia?
O lucro e a mais-valia não são iguais há uma diferença qualitativa entre eles, a mais-valia indica a origem, ela é uma categoria que, por definição, é resultado de parte do valor que foi criado e não foi paga ao trabalhador (quem gera a mais-valia é o trabalhador e quem se apropria é o capitalista). O lucro é o resultado do investimento, o cálculo que se faz para obtê-lo é a taxa de lucro e esta reforça a ilusão de que o lucro é resultado de todo o capital investido. Para o empresário o seu lucro provém do investimento, quando isto acontece a mais-valia assume a forma transfigurada de lucro, ou seja, produto do investimento. Esse é o problema que obscurece, impede de certa forma a observação da valorização do capital, ao final do processo produtivo a mais-valia vai reaparecer juntamente com o montante inicialmente investido, dando a entender que foi todo o capital que produziu o excedente econômico. Na realidade a mais-valia é um dado, o excedente do preço de venda da mercadoria sobre o preço de custo e sua origem mergulha no mistério.

O salário é o preço do trabalho?

Aparentemente sim, os agentes econômicos têm essa ilusão na cabeça, mas segundo a grande descoberta científica de Marx o salário na sua essência não é o preço do trabalho e sim da força de trabalho. Contudo essa categoria aparente é tão forte que os governos martelam na cabeça de todos que o mercado é um “mercado de trabalho” impedindo assim de se descobrir e desmistificar que o real é que o mercado é de força de trabalho. Para o sistema é preciso esconder a essência, ou seja, a origem da produção da riqueza, o segredo da mais-valia, qualquer que seja a forma de trabalho ela contribui para empurrar na cabeça das pessoas que o que elas estão vendendo é o trabalho e não a sua capacidade de trabalhar. Só se vende e se realiza o trabalho depois que se realiza o contrato (venda da F.T.), aliena-se o valor-de-uso da força de trabalho que é justamente trabalhar e produzir, criar valor e mais valor no processo de produção. Embora na aparência o fenômeno econômico da remuneração salarial nos induza à pensar que o trabalhador vende trabalho, o trabalho humano é de duplo aspecto: abstrato (cria valor) e concreto (transfere valor), ao mesmo tempo em que o trabalhador transfere valor da parte morta, ele está criando uma coisa que não existia antes.

De onde vem o lucro?

Para o capitalista o seu lucro vem de todo o capital investido, o que os agentes econômicos vêem são as formas de manifestação dos fenômenos (aparência). O lucro do capitalista provém de ter para vender algo que não pagou. Quem o produz é o trabalhador que materializou trabalho - vivo (mais-valor) no produto, podendo o capitalista vendê-lo por um preço maior do que está contido no produto. O problema que obscurece, impede de certa forma a observação da valorização do capital, é que a força de trabalho é um elemento do custo de produção sujeita às contas dos capitalistas, no final o lucro surge como algo misterioso que veio de fora da empresa.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

A Farsa do Plano Real ( II )


Um mês após a reeleição de Fernando Henrique, o FMI ofereceu devidamente ao Brasil um crédito no total de 41 bilhões de dólares. O Brasil não ficou com nada disso, é claro. Qualquer parcela que tenha realmente pingado no país embarcou no primeiro avião com os investidores e especuladores que o abandonaram.
Os brasileiros tiveram que pagar a divida, mas essa foi a menor das preocupações. Como parte da magia negra para manter a taxa de câmbio antes da eleição, Washington pressionou o Banco do Brasil a elevar a taxa de juros básica para 39%. O FMI pressionou por 70%. Nas ruas de São Paulo, isso se traduziu em taxas de juros de até 200% sobre empréstimos privados e crédito a empresas.
A confirmação do esquema de Rubin para salvar tanto FHC quanto os bancos americanos vem de uma fonte das mais interessantes: Jeffrey Sachs, da Universidade Harvard. Sachs é mais lembrado como a Mary Tifóide do neoliberalismo, que disseminou teoremas do mercado livre e a depressão econômica pela extinta União Soviética. Sachs, que continua entre o falante grupo de atores no círculo das finanças internacionais disse: “Você podia ver a economia [brasileira] caindo do precipício. Foi em câmera-lenta. Mas, em vez de evitar a queda pela desvalorização controlada, Washington e o FMI incentivaram vigorosamente taxas de juros acima de 50%”.
Washington queria a reeleição de FHC, dando seis meses aos financistas americanos para vender os títulos e moeda do Brasil em condições favoráveis. FHC sabia que não adiantava culpar as manipulações de Rubin pelos problemas do Brasil. Em vez disso, com a ajuda de uma imprensa de direita, ele e o FMI atribuem o colapso econômico a vilões conhecidos: funcionários públicos, aposentados e sindicatos. Foram acusados de estourar o orçamento do governo. Os pagamentos dos juros equivaliam a 10% dos gastos do país e eram totalmente responsáveis pela duplicação do déficit federal, comparados a isso as aposentadorias, principal alvo dos cortadores de orçamento, são uma gota no oceano.
Diz-se que o FMI falhou porque os juros altos causaram a crise e depressão no Brasil,mas o que ninguém notou é que a crise foi um elemento deliberadamente planejado...

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Ainda sem nome - Parte I

Na verdade, mal sabia ele o que estava fazendo, se é que alguém montado em seu ombro que não passava dele mesmo sabia. Continuava a se agarrar à idéia de que buscava ali e nos seguintes passos que daria uma nova forma de perceber o mundo, algo que tivesse um significado inteiramente novo, algo que no contato com as suas retinas devolvesse a energia da sua alma, que parece ter ficado perdida em alguns dos seus exercícios de internalização e externalização de apatia. O ar era feito de inércia. Procurava algo que recuperasse a melancólica serenidade dos seus olhos negros tão novos, mas tão cansados.
Estava impregnado daquela experiência, acontecido de semanas atrás que tirou seu sono, que fez com que os livros que lia fossem mal digeridos, voltando de dez em dez páginas para reler cinco ou seis parágrafos. Aquele claro momento que post factum pode ser afirmado, aquele quadro onde não tinha o que seguir, para onde ir. A sua mente apenas flutuava em algo que quando descoberto destruirá e colocará como pura especulação científica as bases empíricas dos quatro elementos. O que havia era um todo. Esse momento, post factum pode ser afirmado, mas não descrito, pois qualquer descrição é um momento de alienação, a descrição rompe a unidade, única palavra da nossa linguagem que se aproxima daquela sensação. A descrição, assim como uma certa ciência, esquarteja tudo o que percebe. Quando nos demos conta dos nossos olhos de aranha, acabamos por multiplicar a própria realidade e presenteamos cada parte com asas.
Era o ônibus, o calor, a camisa vermelha. O seu corpo em chamas fez com que os seus olhos se voltassem para o céu na tentativa de sentir através dos olhos alguma brisa, algo que trouxesse sossego. A cada solavanco dado por aquele elefante encaixotado, seu íntimo sentia uma mistura de prazer e náusea, algo como um casal apaixonado fazendo amor no esgoto: nem prazer nem náusea deixam de ter intensidade, deixam de dar a impressão de que o corpo humano se rompe e se refaz constantemente. Ambos existiam, não separados, eram como dois amigos bêbados vomitando em si e no outro como sua imagem das meias ao colarinho.
Era essa a sensação que movia o seu olhar que a cada direção lançada expelia uma gosma com aroma de flores. Era essa mesma unidade que unia seu espírito que o obrigava a copular com o céu.
Quando o seu corpo já era erguido como que por plumas e correntes...

Ainda sem nome - Parte II

“Em caso de emergência: Puxe as duas alavancas”
...Nada era mais presente em sua vida do que aquela odiosa sensação de sempre ter que abrir portas, de construir chaves que cada vez mais se acumulavam, cada vez mais o sufocavam. Era um símbolo da sua vida haver um mecanismo para chegar ao céu. Todas as suas relações eram perpassadas por isso, nem as mulheres tinham mais tanto encanto. Perguntava-se se tudo merecia uma chave, sendo essa chave a quantidade que fazia com que as coisas fossem trocadas. Será que cada indivíduo (o tão falado!) deve (!) se sentir tão separado do outro? Tudo tinha que ser tão mecânico?
Perguntava-se se haveria outro mecanismo quando arrebentasse o primeiro, foi mais além e se perguntou: Será que os meus próprios olhos só vêem portas? E cansou! Algumas etapas lógicas à frente demonstraram que a tentativa de se emancipar dessa percepção em chave era uma mecanização da emancipação, em bom português, uma nova chave.
Nada o angustiava mais do que esses ciclos onde o desenhista desenha sabendo que o desenho não agradará. Uma tentação irresistível de registrar uma paisagem de cartão-postal. Era tudo ridículo, nada avançava, os homens de prática o haviam ensinado o método para acusar o ideológico, e a angústia nascia da sua incapacidade de ser tão frio e podre a ponto de não aplicar o método em si mesmo, de se autocriticar. E além do mais, a própria natureza desses questionamentos eram pequeno-burgueses, mesquinhos, existenciais. Não vomitava, pois via naquele momento que o vômito era sagrado e imaginou que ele se alojava em alguma parte independente do seu corpo, aquilo não era algo que retornava ao mundo, subproduto da chacina alimentar cotidiana, mas era a prova, era a imagem, era a materialização da negatividade diária, sendo assim um primeiro passo para uma ruptura profunda. Estava tão pouco sistemático e tão embriagado sem que o tenha ingerido álcool que chegou a pensar que os produtores e reprodutores da idéia de uma organicidade do vômito eram cientistas ideológicos, macaqueando uma mentira que passou a ser verdade. Logo viu que o seu próprio raciocínio era ultra-ideológico, dogmático. Pensou que seu nome era Bruno, chegou a falar em um tom moderado: “São Bruno”*. (*Bruno Bauer)
Enojou-se, engoliu a seco, mordeu o próprio braço, mas não deixou de ter um prazer estético por essa deificação do vômito.
Tocou na janela, nos grandes cobogós de aço e vidro. Uma delas estava aberta, reteve o olhar por um bom tempo no contraste entre o céu aberto e o céu fechado. Pensava, ao focar a metade direita, nas irmãs da sua avó materna. Diziam que quando reconheciam os tais netos da sua irmã mais nova, o faziam tendo como base a altura, o resto se desfazia em nuvens, nem contornos haviam. Haviam manchas, uma hegemônica e estática ao redor de algumas heterocrônicas e heteroformes, as vezes uma pequena nuvem branca se abria um pouco abaixo do centro da mancha morena, e os olhos não existiam, se perdiam na pele marcada e sofrida que os rodeia. Talvez aquelas imagens fossem como elas queriam ser. Se odiavam e não paravam de beliscar a sua própria pele amarrotada por uma ver a si mesma na outra reciprocamente.
Preferia que lutassem com martelos.
Esboçou um sorriso ao perceber que tinha a impressão de ver através de outros olhos, mais especificamente por ver através de olhos gastos que o intrigaram por tanto tempo simplesmente com a sobreposição cotidiana de uma camada de vidro sobre uma camada de céu. Apertou os dentes, sério, por ser ele mesmo esse velho doente. Um inativo.
Soprou a parte esquerda, nada viu, mas supunha que o ar quente dos seus pulmões tivesse se misturado com o mormaço. Soprou a parte direita e viu seu ar tomar forma. Se assombrou, pensou que tudo o que era produzido pelo ser humano era profano, chegou a ver um fantasma-mercadoria estabelecendo propriedades quantitativas sobre as coisas que fazia deslizar a aba da sua saia, essa idéia chegou a se materializar quando mais uma vez soprou a parte direita, a parte-vidro, e viu duas manchas de ar com diferentes tamanhos. Logo estabeleceu uma relação quantitativa entre estas duas manchas de ar e outras manchas do caminho – óleo, água, álcool – tudo passou a ser ora relativo, ora equivalente. Percebeu que a sua percepção estética era completamente enquadrada, tal consciência da sua própria negatividade o fazia um artista: transformava quadrados em esferas, mas não as fazia circular, encaixotava-as onde guardava as suas medíocres vitórias especulativas.
Não conseguia lembrar dos quatro ou cinco minutos que preenchiam o espaço entre dois momentos que obrigavam a memória a registrá-los. Achava isso inconcebível. Sem essa linha, perdida no ar, todas as coisas perdiam a unicidade, lembrava de duas pessoas que falavam alto sobre as suas misérias, mas não lembrava dos quatro degraus vencidos por aquele corpo pesado que marcava o ar de colônia, não recordava da troca de olhares entre este e o cobrador, muito menos as provocações e conversas pontuadas daqueles dois que todos os dias se encontravam na volta pra casa daquela trabalhadora que tinha nos dedos o cheiro de alho do almoço que comeu afastada daquele espetáculo horrendo de sorrisos brancos.
Esses momentos, como necessários, se materializavam na memória como hipóteses, suposições. Não conseguia parar de imaginar o encontro entre a mulher de corpo pesado que exalava colônia e alho e um conhecido seu que jogava palavras-cruzadas, que da sua parte não deixava de pensar se o seu sonho de estar pescando era pura imaginação ou o reflexo dos movimentos da sua cabeça que mais parecia uma vara lançada e puxada, cochilando e despertando. Estranho que o observador lhe inculcasse até os sonhos. Será que, de alguma forma, aquele homem se sentia incomodado com esse arrombamento, e não licença, do seu inconsciente?
Parou por um momento e teve medo de se tornar paranóico, ele era um filho dessa época confusa que foi arbitrariamente taxada de insolúvel, como se vivêssemos num caos cada vez mais confortável, num grande hotel a beira de um abismo*. Toda a sua vida era uma grande abstração. Se desfez desses pensamentos tolos e deixou de ver o outro como tão distante, viu que aquelas duas mentes podiam comungar os seus corpos e divagações. Nada o deixava mais feliz do que essa revira-volta heróica do seu raciocínio. Chegou ao ponto de apertar forte as próprias mãos, mas se entristeceu com aquela solidão, embora tenha sentido, por um momento, em um das mãos, o calor daquele que havia pouco tempo atrás era o outro, e que já não o era mais. Fechou os olhos, ficou alguns segundos sentindo a sua cabeça tremer com o balançar do ônibus que se intensificava quando chegado aos vidros, sentiu o vento e sorriu. (*Lukács)

Ainda sem nome - Parte III

Continuou, imaginou as pernas daquele que pescava palavras em sua mente e as reproduzia mecanicamente no papel. Chegou a imitar o movimento que este homem fez ao oferecer o lugar a sua companheira colônia e alho: estava sentado ao lado do corredor quando a viu, colocou o seu pequeno livro de palavras-cruzadas no colo, afastou a sua perna direita para o canto direito do ônibus e fez dela um apoio que fez com que todo o seu corpo acompanhasse o movimento; quando finalmente mudou de lugar e se sentiu confortável, viu que o corpo da sua companheira era grane demais, retraiu ainda mais as pernas para a direita, os seus joelhos se tocaram, as coxas finas produziam um espaço onde se via a cor da cadeira coletiva, seu corpo e sua alma se encontravam apertados, não se sentia a vontade. O que poderia explicar essa repentina mudança de humor: de uma tranqüilidade serena para uma agonia defensiva, como um gato arrepiado no canto de uma parede? Seria algo construído no passado da relação entre esses dois sujeitos ou apenas uma rejeição mecânica de uma aproximação física e intelectual? Se sentiu ainda mais íntimo do homem das pernas finas, chegou a ver nele as suas sobrancelhas, os seus cílios, as suas pálpebras sofridas. Sabia que gostava dos muitos, gostava de suor e de perceber os seus olhos perdidos e também empolgados em não ver na multidão apenas o mais do mesmo. Mas sabia também que tinha medo, não de sofrer, o que o inspirava, mas um medo puro, uma decepção sem que ninguém precisasse desapontá-lo. Uma decepção abstrata, e não prática.
Não queria dar nomes a essas pessoas que participavam tão ativamente da sua angústia e alegria, agradava-o a idéia de que o cheiro era o existir, o componente perceptível da alma. Via no cheiro um poder classificatório maior do que qualquer nome. O nome era inteiramente cultural, o cheiro conciliava algo que já existe no nascimento e a posição de cada sujeito no mundo. Aquilo que se introduzia através das suas longas narinas expressava a falsidade de toda a ciência contemporânea fragmentada. Via, ouvia, sentia e refletia no cheiro o próprio ser social. Não o cheiro das unhas daquela mulher, nem a colônia que fazia brilhar a sua pele que se esforçava em não romper sob toda aquela pressão adiposa, algo mais profundo que o ligava a ela, algo que fazia com que um visse com os olhos do outro e permitia saber, objetivamente, o que devia ser feito, e era isso que ele queria, agir.
Antes de se entregar completamente àquele perfume que abalava toda aquela sua frágil existência individual, percebeu que não sentia no homem de pernas finas aquilo que sentiu ao ver aquela mulher. Sentiu-se triste, talvez ele não mais existisse, ou poderia ter perdido a sua existência em alguma esquina daqueles cruzamentos inúteis que clamavam por palavras.
Tentou se aproximar, deveriam se salvar juntos, mas percebeu aqueles olhos medrosos, que se tornavam vermelhos por refletirem a camisa vermelha que se colocava cada vez mais perto, as pernas se apertaram, tão assustadas, que propiciaram o toque de duas coxas que até aquele momento se estranhavam. Voltou ao seu lugar depois de quase cair sobre aquele corredor que registrava passos.
Via a verdade naquele cheiro, presa por portas medonhas e construída por homens perversos ou apenas novos marceneiros. Todas elas deviam ser destruídas e não abertas, o aparecimento da verdade tinha de ser total e não parcial, aquele cheiro havia de construir um novo céu.
Desceu, as pessoas não o viam muito bem, a sua imagem era estranha, pois naqueles os olhos não se encontravam no nariz, mas se sentiam ao mesmo tempo bem com a sua presença, olhavam, todas, diretamente para o céu.
Algumas semanas depois daquele ônibus, foi visto sentado na areia da praia, mastigando sons e vomitando reflexões. Estava abatido e angustiado como no dia em que era levado por aquele elefante encaixotado a lugares que ainda não conhecia, mas que já pareciam tão distantes. Um olhar mais atento poderia ter visto, no seu bolso, um volume mais alongado e saliente que correspondia a uma caneta, e um volume retangular e achatado que poderia ser tanto um cartão como um papel dobrado. Junto com um invólucro de bala que tirava do bolso em direção ao lixo, estava aquele segundo volume, retangular e achatado. Asfixiado que estava, se desdobrou, e assim como falamos obrigado uns aos outros, dizia o papel ao vento:

“O outro
Contra quem lutamos
É a nossa essência.

O totem tartaruga
Contra o qual
Nosso corpo reage
Diante de qualquer lento-ato.

Não devemos nos perguntar
Se a nossa luta
Contra esses diabólicos reflexos mecânicos
Não tomou a forma
Daquilo contra o qual cravamos os dentes?

A tartaruga tem em si
Um segredo oriental
Um poder de grande magnitude
Que nos mostrará novas possibilidades?”

Sentia-se desapontado, sua mente se encontrava, novamente, recheada de interrogações que deviam pesar toneladas, pois com elas não conseguia se movimentar. Seus pés e suas mãos formigavam e o mundo apodrecia ao seu redor.

Quando nos demos conta dos nossos olhos de aranha, acabamos por multiplicar a própria realidade e presenteamos cada parte com asas.

o abandono do conceito de totalidade
da "ciência" contemporânea
distorcido em hegel
ajustado em Marx
esquecido pelos profissionais ideológicos contemporâneos

*Texto escrito pelo meu amigo Lucas Trindade aluno de Ciências Socias da UFPB.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Mudanças na poupança a partir de 2010.

A partir de 2010, os depósitos na poupança acima R$ 50 mil estarão sujeitos ao Imposto de Renda. Já os fundos de investimento terão desconto.
O principal argumento do governo é de que, com juros cada mais baixos, os fundos de investimento perderiam clientes, provocando uma migração em massa para a poupança. O resultado seria um "desequilíbrio" no sistema.

Mas por que o governo decidiu mudar as regras da poupança?

Com o agravamento da crise, o Banco Central vem reduzindo a taxa básica de juros no Brasil, a Selic. Desde janeiro, o corte chega a 3,5 pontos percentuais. A redução afetou o rendimento dos fundos de investimento, muitas vezes baseado na Selic. Nesse cenário, a caderneta de poupança (isenta de imposto de renda), passa a ser mais atraente.
A explicação do governo é de que uma possível migração (dos fundos para a poupança) causaria um "desequilíbrio" ao sistema. Isso porque os recursos da poupança são direcionados a créditos específicos, como por exemplo, o habitacional.
Já os recursos depositados nos fundos podem ser usados para crédito livre. No caso de uma fuga desses fundos, faltariam recursos para financiamentos "normais". Era preciso, na avaliação do governo, conceder estímulos para que os grandes investidores permaneçam nos fundos de investimento.

Quem é mais prejudicado com as medidas?

As medidas afetam os chamados "grandes investidores", pessoas que, na avaliação do governo, estariam usando a poupança como mecanismo de "especulação".
O governo definiu esse grande investidor como clientes com depósitos na poupança acima de R$ 50 mil. Essas pessoas terão seus rendimentos afetados com o pagamento de imposto de renda.
No entanto, aquelas pessoas que têm na poupança sua única fonte de rendimentos estão isentas do IR, desde que tenham até R$ 850 mil. A partir desse valor, o cliente será taxado.

Existem críticas quanto às mudanças?

Sim. Alguns especialistas dizem que essa é uma decisão "paliativa". "A medida resolve uma questão momentânea. O governo precisa se preparar para mudar o sistema financeiro, com vantagens para aplicações de longo prazo", diz o economista Antônio Correa de Lacerda, da PUC-SP.
Segundo ele, o assunto estava gerando "muita especulação", obrigando o governo a antecipar o anúncio das novas regras. "O governo comunicou mal e a oposição também errou, ao falar na possibilidade de confisco", diz Lacerda.
Há críticas, ainda, quanto a própria tributação sobre a poupança. A avaliação, nesse caso, é de que a redução do Imposto de Renda sobre os fundos seria "suficiente" para atrair os clientes.
Além disso, o governo poderia encontrar formas de "forçar" os fundos de investimento a reduzir a taxa de administração cobrada, que também afeta o rendimento líquido.
O presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ), criticou o fato de o governo aumentar a tributação. "Somos radicalmente contra a criação de qualquer tipo de imposto. Hoje (o limite) é de R$ 50 mil e amanhã muda para R$ 30 mil", diz.
Segundo Maia, a proposta do governo, que será encaminhada ao Congresso por meio de Medida Provisória, terá "dificuldades" para ser aprovada.

Com as novas regras, a Selic pode cair ainda mais?

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse que as novas regras "derrubam" um dos principais impedimentos para uma queda ainda maior na Selic.
"Não estão dizendo que a Selic vai cair. Mas não é razoável, a essa altura, ter um impedimento para a redução dos juros", disse Meirelles.
A proposta do governo é de promover uma maior tributação sobre a poupança na mesma proporção da queda da Selic. Ou seja, quanto menor os juros, maior a incidência do Imposto de Renda.

O governo sai ganhando com essa tributação?

Sim. Caso os juros caiam, o governo dará um desconto no imposto de renda sobre o rendimento dos fundos de investimento. Ou seja, o governo deixará de arrecadar. Se a Selic cair para 9,25%, por exemplo, a renúncia fiscal no ano chegará a R$ 3,5 bilhões.
No entanto, a queda dos juros também proporciona ganhos para o governo, com a diminuição de sua dívida. A estimativa do Ministério da Fazenda é de que, com a Selic a 9,25%, o governo economize R$ 11,5 bilhões com o pagamento de juros.

A medida afeta o governo politicamente?

A avaliação do professor da PUC-SP é de que o governo conseguiu, pelo menos nesse momento, preservar o pequeno poupador.
Estima-se que apenas 1% dos poupadores no país tenha acima de R$ 50 mil em suas contas. Com isso, o governo deixou de fora das medidas a grande maioria dos poupadores.
O governo também se preocupou em divulgar logo as novas regras, de forma a evitar especulações. O outro motivo seria ainda evitar um anúncio muito próximo a 2010, o que poderia prejudicar a imagem do governo diante do período eleitoral.