sábado, 11 de abril de 2009

Frustração do aluno de economia

É da alçada dos economistas a análise dos grandes desequilíbrios que estão na raiz dos graves problemas do mundo contemporâneo.
O jovem aplicado que criteriosamente fez o seu curso de economia, entre nós, terá conseguido um razoável conhecimento das múltiplas dependências dessa mansão senhorial que é a teoria dos preços. Estará em condições de dissertar sobre a teoria do comportamento do consumidor e do equilíbrio da firma. Terá dado múltiplas voltas em torno das teorias monetárias. Conhecerá muitas doutrinas sobre o ciclo econômico, mesmo se, no fundo, estiver convencido de que todas elas dizem a mesma coisa. Finalmente, haverá lido de forma assistemática muito material sobre desenvolvimento econômico, conquanto nem sempre tenha encontrado conexão clara entre essas leituras e a realidade.
Ao enfrentar-se com o mundo real, esse economista provavelmente se sentirá frustrado ao extremo. Se for trabalhar numa empresa privada, logo se dará conta de que a análise marginal não possui qualquer alcance prático. Em pouco tempo perceberá que é muito mais importante compreender as limitações de natureza administrativa e as controvérsias de tipo fiscal do que conhecer a especulação teórica. A desorientação será ainda maior se o economista for convocado para o setor estatal.
Qual a razão dessas perplexidades e que fazer para atenuá-las? Toda ciência trabalha com esquemas conceituais, mas testa esses esquemas confrontando-os com a realidade. Para um economista, observar o mundo real é saber esquematizá-lo, simplificá-lo. Como ainda não existe um corpo de teorias elaboradas para explicar o comportamento de uma economia subdesenvolvida, semi-industrializada, com insuficiência crônica de capacidade para importar, com excedente estrutural de mão-de-obra, como é a nossa, não é de admirar que o diplomado em economia saia de sua escola e enfrente o mundo real com mais dúvidas e perplexidades do que certezas
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Celso Furtado

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