quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A Rosa do povo

"O poeta
declina de toda responsabilidade
na marcha do mundo capitalista
e, com suas palavras, intuições,
símbolos e outras armas,
promete ajudar
a destruí-lo
como uma pedreira,
uma floresta
um verme."


Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Marx e a religião: É possível fazer socialismo com fé em Deus?

Na opinião de Leandro Konder: não só é possível, como é absolutamente necessário que o socialismo seja feito também – e decisivamente – por gente que tem fé em Deus.
Marx fustigou as posições direitistas dos cristãos: tanto dos católicos quanto dos protestantes. Contudo, sobre uma perspectiva filosófica materialista, e considerava a perspectiva da religião alienada. Para Marx, a religião era o “ópio do povo”; era “o sol ilusório em torno do qual gira o homem, enquanto não gira em torno de si mesmo”; era a consciência e o sentimento do homem que “ainda não se encontrou ou então já se tornou a perder”. E era também “o suspiro da criatura esmagada, o coração de um mundo sem coração, o espírito de um estado de coisas carente de espírito”.
Do ponto de vista de Marx, não decorria nenhuma atitude de intolerância contra a religião. Em O capital, Marx deixou claro que considera a religião um reflexo necessário, na cabeça dos homens, de uma vida organizada de tal modo que as relações entre as pessoas (prejudicadas pela propriedade privada) eram tensas, obscuras, geradoras de insegurança, opressão e violência. A religião só poderia desaparecer quando não existisse mais esse mundo do qual ela era o reflexo necessário. Antes de ter criado na prática um mundo novo que venha a tornar a religião desnecessária, é absurdo pretender suprimir o reflexo religioso na consciência dos homens: a coerção antirreligiosa reforçaria as bases da ideologia que estaria pretendendo anular.
Marx compreendia isso. Mas não podia deixar de entrar em choque com os cristãos da sua época. Não se tratava de uma controvérsia filosófica e sim de uma briga política: Marx não os combateu por serem cristãos, mas por serem reacionários.
Os cristãos mudaram muito desde a época de Marx. Os caminhos do cristianismo não se mostraram menos variados e surpreendentes que os do marxismo. No século 19, havia poucos cristãos do lado da classe operária; hoje há milhões de cristãos integrados nos movimentos reivindicativos dos trabalhadores, enfrentando na prática os privilégios do capital e aprendendo na escola da vida o que Marx ensinou nos livros. Mesmo continuando a ser cristãos e continuando a ter fé em Deus, esses lutadores agem por vezes como se fossem revolucionários marxistas. Às vezes agem melhor do que os marxistas no fortalecimento do movimento operário.
Com que autoridade alguns marxistas sectários, enciumados, poderiam impedi-los de assumir o lugar que eles conquistaram na efetiva vanguarda dos movimentos de massas?
Nas sociedades modernas, complicadas, a classe operária precisa travar uma luta política prolongada, que depende da sua capacidade de mobilizar aliados, somar forças, ocupar-manter-e-ampliar todos os espaços democráticos que o movimento de massas consegue abrir no interior do sistema capitalista. Por isso – para avançar através da democracia na direção do socialismo – a classe operária precisa do pluralismo.

Trecho retirado do livro " O Marxismo na batalha das idéias", Leandro Konder.