quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

"Milagre brasileiro" nos anos 70?

Diferentemente do que defende a teoria marxista, a maioria dos autores atribui à expansão do início dos anos 70 às políticas econômicas adotadas na época. Contudo este período de crescimento, que se seguiu à crise dos anos 60, vem apenas confirmar a trajetória do ciclo econômico: de reanimação e auge. Estas fases apresentaram-se com grandes taxas de crescimento do produto industrial gerando a ilusão de que as medidas de política econômica eram as responsáveis pela expansão.
O papel das políticas econômicas por vezes é criar essa ilusão, pois suas medidas podem causar efeitos anticíclicos (atenuando fases de crise e depressão) ou expansionistas, estimulando auges elevados. A ação governamental na economia tornou-se tão comum que a maioria dos autores atribuem as fases de expansão e crise aos acertos e falhas das políticas econômicas do governo.Tais afirmações baseiam-se portanto nas observação da aparência, independentes das medidas adotadas, a economia seguiria o seu movimento com as fases de crise, depressão, reanimação e auge.As medidas econômicas adotadas não criaram o milagre econômico, a economia já encontrava-se saneada pela crise ocorrida em meados dos anos 60 e portanto preparada para desenvolver um novo período de ascensão.

Brasil anos 60 e a marcha para a crise

Já em 1961 a economia inicia a sua marcha a crise, que ira se realizar apenas em 1963

A entrada para a etapa de crise é de caráter rastejante devido aos seguintes fatores:
• Por ser a primeira Crise de superprodução, o processo de renovação do capital fixo, base material da crise, ainda não estava completamente sincronizado;
• O fato de a industrialização ter se dado num país subdesenvolvido e em uma fase do capitalismo monopolista (suas características próprias);
• Conjuntura mundial de expansão econômica;
• Os investimentos efetuados no plano de metas que se distribuíam em 4 a 5 anos (por exemplo, a grande siderúrgica USIMINAS que, em 1962 ainda estava em obras de ampliação).

É valido observar que a crise foi presidida por uma superprodução latente que se tornaria uma superprodução real. Este estado de latência é caracterizado pela superampliação do aparelho produtivo, com o aumento mais que proporcional da capacidade instalada, particularmente nos setores que fornecem os elementos materiais do capital fixo. Esta superaculação provocaria o crescimento da capacidade ociosa e o aumento da formação de estoques.

Em 1961 já se observa uma redução dos investimentos em equipamentos, menos as instalações, além da existência de uma importante capacidade ociosa (vale salientar que já havia sido instalada uma capacidade maior que a demanda na época do plano de metas). – super-dimensionamento da instalação de alguns ramos do setor de bens de capital e de bens de consumo duráveis.
Mesmo caindo os ritmos de investimento, o produto continuou a crescer, pois a medida que já estava instalado, o capital produtivo teria que exercer a sua função.

O processo de aumento da capacidade ociosa teve efeitos negativos em toda a economia: “O excesso da capacidade e o excesso de poupança interna das empresas em aplicação nos respectivos setores, tem um efeito depressivo sobre a taxa de investimento privado. Quando este começa a cair, arrasta consigo uma queda da taxa de emprego e nos níveis de demanda efetiva, que por sua vez leva à quebra das empresas marginais nesses setores. Estes acontecimentos são a descrição da passagem da sobreprodução latente para a sua forma de manifestação real.

Ao se analisar o período antecessor a crise, leva também em consideração a variação no consumo produtivo e pessoal. Para este último será observada variações dos salários, onde conclui-se que, nos anos antes da crise, não se verifica uma queda do nível de salários e, conseqüentemente, do consumo. Porém, se observar a relação dos salários e poder se compra observa-se que a partir de 1963 os níveis de rendimento apresentam uma relativa queda. Este fato se da devido ao decreto, em 1963 de aumento do salário em 56,25%, mas no mesmo período houve uma elevação de 78,12% no custo de vida.
O início da crise em junho-julho deve ter influenciado fortemente a subida da taxa de inflação e que repercutiu na queda dos salários. Em 1964 se apresenta como exceção visto a época de grande movimentos reivindicatórios que tiveram como conseqüência aumentos salariais.

Logo, é evidente que a crise iniciada em 1963 foi precedida por um período de grande expansão nos mercado, com grande ampliação do consumo produtivo e pessoal. O primeiro foi comprovado com altas taxas de investimento até o ano de 1962 e o segundo pelos altos salários, (contribuição também do crédito).
“fica incorreta a afirmação de que a crise foi provocada por limitações ou imperfeições do mercado, por falta de consumo ou má distribuição de renda”.

Pode-se observar que, apesar do aumento dos rendimentos e da conseqüente participação de mais consumidores na procura, e do crescimento dos investimentos e do consumo produtivo, a crise de superprodução estava em marcha, pois as condições para o fenômeno se tornar real estavam dadas.

Síntese e conclusões

• Em 1963 o país entrou na fase de crise do seu primeiro ciclo próprio de superprodução;
• As condições reais para a superprodução se deram no início dos anos 60, quando o processo de acumulação capitalista no Brasil atinge o ponto de mudança qualitativa a partir do qual se manifestaria a crise cíclica de superprodução;
• Mas antes foi preciso a existência de uma superprodução latente através da existência de uma capacidade ociosa generalizada e uma acumulação de estoques, apesar do crescimento considerável do consumo pessoal e produtivo;
• A crise teve um caráter rastejante visto as próprias particularidades da economia brasileira;
• O ciclo econômico começa com a fase da crise no primeiro semestre de 1963. No segundo semestre deste ano a queda foi atenuada por algumas medidas de política econômica, voltando a acentuar-se antes do término do primeiro semestre de 1964. Em 1964 e 1965 foram anos de crise com seu ponto baixo em 1965. A reanimação é possível em 1967 e em 1968 iniciou-se o auge que se prolongou ate 1974;
• O país entrou em fase de crise sozinho, apesar da conjuntura mundial favorável, o que da a primeira crise própria de superprodução no Brasil um caráter singular;
• Os fatos ocorridos na década de 60 conduziu a formação de uma economia que caracterizada como “industrial-agrária”, voltada ao mercado interno.
• A inflação que acompanhou todo o processo, sendo particularmente grave no início dos anos 60 ao apresentar-se sob a forma de ‘estagflação’.

Anos 60 : "endogeneização da dinâmica cíclica da economia brasileira"

Nos anos 60 a lógica e dinâmica da economia capitalista muda para o Brasil. Nesse período identificamos a descoberta do início das condições propícias ao desenvolvimento da crise, sendo assim, o ano de 1960 representa um marco econômico na história do país, de 1960 a 1964 observamos a passagem de um nível econômico para outro.

Como as relações de produção capitalistas tendem a desenvolver-se junto a uma acumulação primitiva de capital, a industrialização torna-se o fator determinante da dinâmica do capitalismo, a certo nível as forças produtivas atingem um grau capaz de provocar o aguçamento da contradição fundamental do sistema e das formas de manifestação. Portanto a base interna para a crise só será gerada à medida que a produção fabril capitalista se instala e se desenvolve dentro do Brasil a partir da década de 60. Antes as crises observadas na economia brasileira eram reflexos da situação externa e o comportamento da economia brasileira, ao recuperar-se mais rapidamente que o resto das economias mundiais, mostrava que estas crises não eram de superprodução, pois tiveram como resposta o crescimento da produção interna que passava a ocupar os espaços ociosos deixados pela redução das importações, a exemplo das crises de 1929 e da 1ª guerra mundial que impulsionaram a alteração da dinâmica econômica externa para a interna. Concluímos então que apenas na década de 60 a crise passa do campo da possibilidade para o da necessidade, a acumulação passa a estar determinada pela expansão do setor industrial (bens de produção e de consumo duráveis) sujeitas a ciclos de expansão e problemas de realização.

A fase de implantação do setor industrial inicia-se na década de 30, devido ao auge do café, e não em resposta a crise externa. A fase da constituição das forças produtivas especificamente capitalistas se dá entre a década de 30 até a década de 50(processo de substituição das importações) – fase caracterizada por uma diminuição da capacidade de importar e um intenso crescimento da produção industrial.

O fator importante é que, entre 1956 e 1957 se esgotam as reservas de mercados pré-existentes.

O processo de acumulação apresentou-se de forma diferenciada no Brasil. De acordo com o modelo clássico, a crise geral seria presidida por crises parciais, a medida que o capital fosse ocupando os espaços disponíveis. No caso brasileiro teve as seguintes particularidades:

1. O grau de proteção da indústria nacional visto as dificuldades de importar;
2. O elevado grau de monopolização da economia;
3. A existência de um grande exército industrial de reserva, pressionando os salários para baixo, não criando incentiva a introdução de tecnologias poupadoras de trabalho – gerou certo atraso crônico de alguns setores;
4. A relativa estagnação mostrada no item 3 repercutiu no dinamismo do setor de meios de produção.
5. A política econômica – o plano de metas – que teve efeito acelerador. “este foi o acontecimento que permitiu a economia dar o ultimo passo em direção a crise”. Pois fomentou investimentos que proporcionaram a instalação, em grande escala, de capital fixo nas novas empresas então criadas. Logo, quando os investimentos completassem o período de maturação, o país entraria em fase de crise.

O plano de metas proporcionou um crescimento da capacidade produtiva além da demanda pré-existente. Os investimentos entre 57 e 61, por exemplo, se focaram em três ramos principais: material de transporte, material elétrico e metal-mecânica, de elevada complementaridade inter-industrial. Este processo teve um efeito acelerador sobre a renda urbana e a capacidade produtiva do setor de bens de capital. A produção nacional de diversos produtos, como peças, permitiu a grande empresa a aumentar seus lucros extraordinários na fase expansionista, verificando assim uma tendência a sobreacumulação e a um crescimento da capacidade a um ritmo superior ao crescimento da demanda. (instalação de capacidade ociosa).

Resumo da contribuição do plano de metas como papel acelerador:
• Para acelerar o esgotamento das reservas do capitalismo, características das economias subdesenvolvidas;
• Para preencher os espaços econômicos vagos;
• Para instalar rapidamente os ramos ainda não existentes, completado a integração do parque industrial do país;
• Para acelerar a sincronização do movimento de rotação do capital fixo dos diferentes ramos e setores;
• Para a realização da reprodução alargada se desse em base nacional.

Em termos qualitativos, o Brasil abre a década de 60 com um perfil industrial de economia madura em que chegará a um importante ponto de mudanças qualitativas.
“Encontra-se uma economia mais diversificada, com processos mais capitalistas de produção e com importantes setores altamente sensíveis a inflexões no ritmo de crescimento, portanto, vulneráveis a uma depressão conjuntural gerada internamente, ao contrário dos anos do decênio passado”.

*texto Resumo da Tese do Dr. Nelson Rosas Ribeiro (Economista)

domingo, 3 de janeiro de 2010



"Existem obviamente leis invisíveis que de algum modo atuam sobre o caos da concorrência e da anarquia: de outro modo, a sociedade capitalista já estaria em ruínas há muito tempo.
O objetivo da economia política, enquanto ciência (e particularmente dos estudos de Marx), é precisamente traçar, reconhecer e descrever estas leis ocultas que organizam toda a sociedade no meio da confusão da iniciativa privada."

Rosa Luxemburg

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Bolsa de valores

A especulação, atividade bolsista específica, se apresenta em primeiro lugar como compra e venda não de mercadorias, mas de títulos de capital; estes, ao contrário da mercadoria, a qual desaparece no mercado pelo consumo, jamais saem da circulação. Se a compra e venda de mercadorias é uma condição vital da sociedade capitalista, o mesmo não se pode dizer da especulação da bolsa.
A troca de propriedade, a contínua circulação das ações não tem influência na empresa uma vez já emitidas e compradas pela primeira vez as ações. A produção e o rendimento não variam quando os títulos trocam de dono, nem varia o rendimento pela variação do preço das ações; ao contrário, este é que se altera com a variação dos seus rendimentos, provenientes do lucro das empresas. As transferências de propriedade de títulos não afetam pois, nem a produção, nem a realização dos lucros. Os ganhos e perdas da especulação nascem das diferenças de valorização dos títulos. Não são lucros, nem correspondem à mais-valia, nem se originam das oscilações da porção de lucro ou mais-valia que vai das empresas aos proprietários de ações; são lucros diferenciais: os especuladores ganham uns dos outros – a perda de um é o ganho do outro. As altas de preços das mercadorias só influenciam a especulação quando são índices de lucros elevados: são as variações nos lucros que têm de fato de ocorrer (ou ser esperadas). Os ganhos surgem porque se estabelecem valorizações opostas que determinam o lucro especulativo de uns e a perda especulativa de outros; num momento o especulador pode comprar mais barato do que vendeu antes ou vender mais caro do que comprou, obtendo ganhos, etc.
A insegurança da especulação cria a possibilidade da influência da direção especulativa, de que os pequenos especuladores sejam arrastados pelos grandes; os primeiros mal informados, seguem os sintomas externos, a aparência, o estado de ânimo do mercado. Esse estado, porém, pode ser e é produzido artificialmente pelos grandes especuladores, cujos movimentos são imitados pelos pequenos. Consolidam o mercado mediante compras volumosas e elevam o nível de cotização com o incremento da demanda; os pequenos aumentam a demanda imitando os grandes, e mesmo que estes já não estejam mais comprando, os preços continuam subindo. A posse de grandes capitais produz a superioridade no mercado, já que a direção deste se estabelece pela forma de emprego dessas grandes massas de dinheiro. Para o especulador profissional, num dado período ganhos e perdas podem compensar-se reciprocamente, mas o público investidor mais amplo, composto de indivíduos de menor poder financeiro, segue a direção indicada pelos grandes especuladores e permanece nela quando estes já se retiraram com lucros realizados. São esses especuladores menores que suportarão as perdas e pagarão as diferenças causadas por variações conjunturais.

Texto resumo de HILFERDING, R.; El Capital Financeiro. Madrid, Ed. Tecnos