sábado, 9 de outubro de 2010

Cultura cívica



A cultura cívica do país mostra-se incongruente com a exuberante “morfologia poliárquica” do país. Alienada eleitoralmente, refratária à participação em organizações como sindicatos, partidos ou assossiações profissionais ou comunitárias, e indiferente à classe política, a cidadania brasileira convive com notável pluralismo organizacional, diversidade político-institucional e forte diferenciação social. O resultado é um híbrido que faz com que o governo governe muito, mas no vazio – um vazio de controle democrático, um vazio de expectativas legítimas, um vazio de respeito cívico...
Esta cultura cívica tem ainda como traço essencial o descrédito quanto a eficácia do Estado, as propostas correntes de reforma institucional para assegurar a “governabilidade” se dirigem à questão partidária e no fundo equivalem a uma estratégia de manutenção do oligopólio da oferta de representação por parte da elite oligárquica, diante do processo de erosão acelerada dos mecanismos seculares de controle que exerce sobre parcelas do eleitorado. Elas não incidem sobre o corporativismo setorial ou comportamento predatório de grupos de interesse, e que estão na base da saturação.