sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Time is Money

O capital precisa ser acumulado para aumentar constantemente a propriedade dos capitalistas. Uma parte desta acumulação deve, porém, ser consumida porque o uso do dinheiro em bens de luxo deve servir para ostentar a riqueza, ou seja, deve mostrar como a acumulação de capital viabiliza a felicidade da boa vida de poder comprar o carro importado do ano, consumir vinhos caros, ter várias casas, viajar pelo mundo. Isso significa, por exemplo, mostrar nas colunas sociais da grande imprensa e das revistas especializadas que os ricos podem consumir, num jantar em benefício ao Programa Fome Zero, o equivalente à renda média da população brasileira, estimada em três salários mínimos. A ostentação faz parte do capitalismo na medida em que separa os ricos dos pobres e estes dos “remediados” que compõem a maioria da sociedade. O mecanismo de crédito e, em muitos casos, do contrabando ou da produção “pirata” cria entre nós, brasileiros, a chamada “sociedade do consumo” composta pelos que podem ter acesso a alguns bens duráveis e ao patamar da civilização capitalista. Estão fora dela aqueles que não alcançam este patamar: não têm água encanada, chuveiro elétrico, fogão e geladeira, não podem sequer fazer um passeio no fim de semana. A felicidade de usufruir “boa vida” do capitalismo é negada aos muito pobres, mas faz parte do sonho de todos. O paradoxo é que o desejo de consumir e, portanto, de ser igual à maioria reforça o processo de produção das mercadorias e serviços sob as mesmas relações capitalistas, implica a reprodução contínua da relação social capitalista e a expansão desta relação para todas as esferas da vida social. A expressão mais conhecida deste domínio da acumulação é o provérbio capitalista “time is Money” (tempo é dinheiro) e se manifesta no cotidiano na forma da permanente “preocupação” em ganhar dinheiro para pagar contas e dívidas com compras a crédito.

*retirado do livro: Para compreender a pobreza no Brasil. Victor Vicent Valla