terça-feira, 17 de novembro de 2009

O Dinheiro e a possibilidade das crises

O valor na sociedade mercantil manifesta-se num corpo incômodo, o do dinheiro. Cujo valor-de-uso é puramente ideal, não é capaz de satisfazer necessidades, é, portanto uma não-mercadoria para um produtor Pi qualquer, ou seja, um símbolo puro de valor. Assim sendo a equação dinheiro do valor, diferentemente das outras, deixa de representar a solução da contradição VxVU, pois a materialização de valor no corpo do dinheiro é transitória, uma vez que o VU desta mercadoria especial é ideal. Haverá a criação de uma nova forma de manifestação para a contradição interna VxVU que é a manifestação externa M x D. Esse salto qualitativo de M – M para M-D-M (dinheiro como meio de circulação) elevará o fenômeno da crise para o nível da possibilidades, teremos assim a 1ª forma de manifestação da crise.
Assumir a função de meio de circulação transforma o par compra-venda numa unidade de contrários, pois permite ao mesmo indivíduo ser vendedor e comprador em momentos diferentes, esta unidade tornar-se-á autônoma quando a oposição prevalecer contra a unidade, ou seja, a não solução da contradição venda x compra, cuja crise terá como função revelar a unidade desses elementos que passaram a ficar independentes uns dos outros. O dinheiro pode separar no tempo e no espaço os atos de compra e venda, ninguém pode vender, sem que alguém compre. Mas ninguém é obrigado a comprar imediatamente, apenas por ter vendido.
Outro fato observado, com o dinheiro na função de meio de circulação, é a ilusão provocada pelo seu movimento aparente, resultado do fetichismo que essa forma de cristalização do trabalho humano abstrato introduz na sociedade mercantil, onde a mercadoria aparece como resultado do movimento do dinheiro.
Ainda na sociedade mercantil se dará a 2ª forma de manifestação da crise - o dinheiro como função de meio de pagamento que figurará em duas fases distintas separadas no tempo, em dois papéis distintos (o real e o imaginário). A contradição M x D terá atingido um nível mais elevado aumentando a oposição quantitativamente (maior circulação de mercadorias com um montante menor de dinheiro) e qualitativamente ( circulam mercadorias sem que haja circulação de dinheiro e posteriormente dinheiro sem correspondência com a circulação de mercadorias). Vemos, portanto, na 2ª forma de manifestação da crise, que dinheiro e mercadoria afastam-se autonomizando-se e se essa autonomia prevalecer ultrapassando certos limites, a unidade prevalecerá por meio de uma crise.
Obs.: Essas duas formas de possibilidade de crise ainda se mostram como abstratas, pois é possível uma crise de abundância, mas não uma crise de superprodução geral, a sociedade em questão, a mercantil, ainda apresenta-se com as capacidades de expansão da produção limitadas, porém com essas duas formas teremos o desenvolvimento da crise do campo do possível até o necessário (no MPC).

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