sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Bolsa de valores

A especulação, atividade bolsista específica, se apresenta em primeiro lugar como compra e venda não de mercadorias, mas de títulos de capital; estes, ao contrário da mercadoria, a qual desaparece no mercado pelo consumo, jamais saem da circulação. Se a compra e venda de mercadorias é uma condição vital da sociedade capitalista, o mesmo não se pode dizer da especulação da bolsa.
A troca de propriedade, a contínua circulação das ações não tem influência na empresa uma vez já emitidas e compradas pela primeira vez as ações. A produção e o rendimento não variam quando os títulos trocam de dono, nem varia o rendimento pela variação do preço das ações; ao contrário, este é que se altera com a variação dos seus rendimentos, provenientes do lucro das empresas. As transferências de propriedade de títulos não afetam pois, nem a produção, nem a realização dos lucros. Os ganhos e perdas da especulação nascem das diferenças de valorização dos títulos. Não são lucros, nem correspondem à mais-valia, nem se originam das oscilações da porção de lucro ou mais-valia que vai das empresas aos proprietários de ações; são lucros diferenciais: os especuladores ganham uns dos outros – a perda de um é o ganho do outro. As altas de preços das mercadorias só influenciam a especulação quando são índices de lucros elevados: são as variações nos lucros que têm de fato de ocorrer (ou ser esperadas). Os ganhos surgem porque se estabelecem valorizações opostas que determinam o lucro especulativo de uns e a perda especulativa de outros; num momento o especulador pode comprar mais barato do que vendeu antes ou vender mais caro do que comprou, obtendo ganhos, etc.
A insegurança da especulação cria a possibilidade da influência da direção especulativa, de que os pequenos especuladores sejam arrastados pelos grandes; os primeiros mal informados, seguem os sintomas externos, a aparência, o estado de ânimo do mercado. Esse estado, porém, pode ser e é produzido artificialmente pelos grandes especuladores, cujos movimentos são imitados pelos pequenos. Consolidam o mercado mediante compras volumosas e elevam o nível de cotização com o incremento da demanda; os pequenos aumentam a demanda imitando os grandes, e mesmo que estes já não estejam mais comprando, os preços continuam subindo. A posse de grandes capitais produz a superioridade no mercado, já que a direção deste se estabelece pela forma de emprego dessas grandes massas de dinheiro. Para o especulador profissional, num dado período ganhos e perdas podem compensar-se reciprocamente, mas o público investidor mais amplo, composto de indivíduos de menor poder financeiro, segue a direção indicada pelos grandes especuladores e permanece nela quando estes já se retiraram com lucros realizados. São esses especuladores menores que suportarão as perdas e pagarão as diferenças causadas por variações conjunturais.

Texto resumo de HILFERDING, R.; El Capital Financeiro. Madrid, Ed. Tecnos

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